Inveja

Sinto sempre um pouco de inveja das pessoas que tem avós. Um avô ou uma avó de cabelos brancos ou cinzentos, com as mãos enrugadas, com os olhos fundos, sem dentes ou a fazer bico de pato.

Lembro-me vagamente de um avô, mas não me lembro de viver com ele. Sinto saudades de algo que não vivi, com alguém do meu sangue. Em pequena adoptei uma avó que não era minha directamente. A avó Ondina. Como eu adorava a avó. Era a avó de todos aqueles que não tinham avó. Adorava mexer-lhe no cabelo branco enrolado numa rede, adorava fazer-lhe festinhas na cara já tão enrugada da idade. Adora quando ela me tratava de minha...a minha Ana! Sinto saudades de me sentar e pegar na mão enrugada e tentar alisar a mesma ou então de ouvir histórias sem fim. Histórias do quando ela era nova ou daquela altura bem distante.
Era tão bom. Andava sempre vestida de preto, com o seu xaile preto, acho que sempre a conheci assim. Lembro-me dela, de todos os detalhes. Desapareceu-me sem dar aviso e fiquei outra vez sem avó, sem a minha avó.

Quantas são as vezes que oiço falar de avós, ou a minha avó isto e a minha avó aquilo...e penso, que sortudos, o quanto eu gostaria de ter uma. Não tenho nenhuma que possa adpotar, pode ser que o tempo se encarregue disso.

Mas tenho saudades, daquele sorriso, daquela pele, daquelas mãos fofas e enrugadas...saudades da minha avó emprestada, que apesar de emprestada era minha de coração.